30/04/2010

Carteira de Identidade

Vº DOMINGO DA PÁSCOA

1. Introdução.
Nossa caminhada pascal vai ao encontro das coisas concretas acontecidas por causa da Ressurreição. A primeira Comunidade entendeu que não poderia ficar apenas na contemplação estática do Ressuscitado, mas era preciso arregaçar as mangas e fazer com que o projeto dEle fosse executado. Como Deus “escreve certo por linhas tortas”, aproveitou-se da perseguição aos cristãos depois da morte de Estevão para provocar a diáspora cristã – fugiram de Jerusalém e foram levar a Boa Nova aos vizinhos... O rosto do Ressuscitado deve ser o nosso rosto. A identidade do Ressuscitado deve ser a nossa identidade. A ação do Ressuscitado deve ser a nossa ação.

2. Identidade.
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. (Jo 13,35)
A insistência do amor na proposta de Jesus, sobretudo nesta sentença, mostra que seremos identificados pela maneira como nos relacionamos. Ser discípulo, ser seguidor se amar. Amar uns aos outros. Só assim seremos seguidores do Mestre. A Igreja quer de nós hoje que sejamos discípulos/missionários. E a Carteira de Identidade será o amor. Segundo conta Tertuliano (Apolog. 39), os primeiros cristãos tomaram tão a sério estas palavras do Senhor, que os pagãos exclamavam admirados: “Vejam como eles se amam!”. Isso era motivo de conversão dos pagãos.

3. Semeando Comunidades.
“Contaram-lhe tudo o que Deus fizera por meio deles e como havia aberto a porta da fé para os pagãos.” (At 14, 27)
A diáspora cristã faz com que se saia de Jerusalém e se leve a proposta de Jesus para os povos vizinhos. Isso ajuda a expansão do cristianismo. Sobretuto Paulo tem esse ardor em fundar Comunidades, viajar, escrever cartas, organizar as coordenações nos diversos lugares. Mas isso não é fácil. “Encorajando os discípulos, eles os exortavam a permanecerem firmes na fé, dizendo-lhes: ‘É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus.’” (At 14, 22).

4. Metamorfose.
“Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes”. (Ap 21, 4)
A leitura continuada de Apocalipse nesse tempo pascal nos estimula ao enfrentamento das dificuldades. Escrito no tempo das primeiras perseguições, descreve como a Igreja era perseguida. Muitas Comunidades até desapareceram. Mas os que perseveram são consolados por Deus. Um tempo novo, “um novo céu e uma nova terra” – (2 Pd 3,13 e Ap 21,1). Transformados para transformar.

5. Conclusão.
“Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5)
Tudo o que ouvimos hoje na Palavra de Deus merece ser transformado em prática na nossa vida. Viver de verdade o AMOR. No sentido pleno. Dando testemunho. Não só em palavras mas em ações concretas. E sobretudo sendo discipulos/missionários, anunciando a Boa Notícia de Jesus. E estaremos então criando condições para acontecer um novo céu e uma nova terra, sendo agentes para tornar novas todas as coisas.

Fonte: Mons. Antonio Romulo Zagotto
catedral@dci.org.br

24/04/2010

UMA PEDRA NO MEIO DO LAGO

IVº DOMINGO DA PÁSCOA

Introdução
Sempre no quarto domingo da Páscoa nos deparamos com o Bom Pastor. Depois dos diversos encontros com o Ressuscitado, Cristo se apresenta como o Pastor. Os que reconhecem o Ressuscitado o seguem. Ele é o Pastor verdadeiro. O que dá a VIDA. Nos dois sentidos: dá a sua própria vida e dá vida às ovelhas.

Eu dou a vida eterna para as minhas ovelhas.
“Minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço, e elas me seguem.” (Jo 10,27)

Por duas vezes, no capitulo 10 de Jo Jesus insiste: “Eu sou o Bom Pastor!”. A comparação para nós, num mundo urbano parece ser sem sentido. Mas nos transportemos ao mundo rural do tempo de Jesus e de muitos de nós que viemos do interior. Não na dimensão poética apenas, mas no sentido real de ser pastor: cuidado, condução, conhecer pelo nome, manhãs de inverno, noites de tempestades... O BOM Pastor estará sempre atento. Dá a vida. Dar a vida: pela sua morte e nos dando a graça. Conteúdo prenhe de significado pascal.

Eis que nos voltamos para os pagãos.
“Desse modo, a palavra do Senhor se espalhava por toda a região.” (At 13, 49)

A Igreja que começa percebe a necessidade de pastorear. Fazer “pastoral”. No sentido literal. Ir ao encontro das ovelhas. Sair de Jerusalém e levar a Boa Noticia para todos. A imagem é a da pedra jogada no meio do lago: como quando alguém atira uma pedra no centro de um lago, e a água quieta se agita, formando círculos cada vez maiores que vão se multiplicando. A força da Palavra é assim: vai se espalhando. E chega até nós. E não podemos engavetá-la. Nossa obrigação é levar adiante a obra do Bom Pastor e dos Apóstolos. Muita gente está a nossa espera.


O Cordeiro-Pastor apascenta e conduz para as águas da vida.
“Pois o Cordeiro que está no meio do trono será o pastor deles; vai conduzi-los até às fontes de água da vida. E Deus lhes enxugará toda lágrima dos olhos.” (Ap 7, 17)

Quem segue o Bom Pastor vai receber a recompensa. Apesar das tribulações. Não mais fome. Não mais sede.


Conclusão.
Poderemos transmitir a Boa Nova em primeiro lugar dentro do nosso âmbito familiar e, depois, fora dele a outros, e estes por sua vez a outros, em ondas sucessivas - como a pedra que cai no lago formando círculos concêntricos cada vez mais amplos. Assim a verdade a respeito de Jesus fica no seu verdadeiro lugar e se expande com os seus benéficos efeitos a toda pessoa e lugar. Penso que é anseio de todos nós que estas verdades não se detenham no nosso reduzido círculo, mas que se espalhem com toda a força e a ressonância de que estão dotadas. Anunciar o Bom Pastor. Anunciar a Igreja. Anunciar o fim das tribulações, tristezas, fome, sede, o fim das agruras da vida... "Deus enxugará toda lágrima dos olhos!"



Fonte: Mons. Antonio Romulo Zagotto

23/04/2010

A culpa é de quem?

Fervem nos meios de comunicação os escândalos provocados pelos abusos sexuais contra menores por parte de alguns do clero católico. De fato, esses crimes e gravíssimos pecados ferem também a Igreja seja pelo hediondo abuso, seja pelo ataque feroz dos que simplesmente a odeiam. Esses atiram para todos os lados, apontando como causa desse ato cruel o celibato (que nós padres LIVREMENTE aceitamos por amor ao Reino de Deus cf. Mt, 19, 12), e a omissão ou acobertamento de bispos e do Santo Padre.

Primeiramente, se o celibato fosse mesmo a causa da pedofilia, como ostentam os inimigos da Igreja, não haveria nenhum caso em que pais de família tenham cometido tais abusos contra menores. A verdade é que, no silêncio (graças a Deus quebrado em grande escala) dos lares de todo o mundo essa prática desumana vem acontecendo.

Certamente, o celibato é um grande sinal para o nosso tempo, marcado pelo hedonismo, por uma sexualidade egoísta, irresponsável e lucrativa. Há muitos celibatários diocesanos e religiosos que são vigorosos, alegres e fiéis a esse dom de Deus e fecundam a sociedade pelo seu eloquente seguimento e anúncio de Jesus Cristo. O problema não é o Celibato. O catecismo da Igreja nos diz nos números 1579 e 1580, na sequência:

"Todos os ministros ordenados da Igreja latina, à exceção dos diáconos permanentes, são normalmente escolhidos entre homens crentes que vivem celibatários e têm vontade de guardar o celibato «por amor do Reino dos céus» (Mt 19, 12). Chamados a consagrarem-se totalmente ao Senhor e às «suas coisas» (1 Cor 7, 12) dão-se por inteiro a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta vida nova, para cujo serviço o ministro da Igreja é consagrado: aceite de coração alegre, anuncia de modo radioso o Reino de Deus".

"Nas Igrejas orientais vigora, desde há séculos, uma disciplina diferente: enquanto os bispos são escolhidos unicamente entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados diáconos e presbíteros. Esta prática é, desde há muito tempo, considerada legítima: estes sacerdotes exercem um ministério frutuoso nas suas comunidades (Concílio Vaticano II, Presbyterorum Ordinis). Mas, por outro lado, o celibato dos sacerdotes é tido em muita honra nas Igrejas orientais e são numerosos aqueles que livremente optam por ele, por amor do Reino de Deus. Tanto no Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem já não pode casar-se".

Em segundo lugar, quanto à acusação de omissão e acobertamento da Igreja por parte de bispos. É verdade que em alguns casos de pedofilia noticiados pela imprensa há o histórico de omissão por parte dos bispos em questão. Não é essa a norma na Igreja (clique e saiba mais) Não se pode acusar toda a Igreja por isso.

Quanto à acusação de que o Papa tenha acobertado, mesmo antes do pontificado. Tal acusação é infundada, inaceitável e injusta. O papa Bento XVI tem enfrentado abertamente esse problema, manifestando seu horror e sentimento de traição (reação partilhada por toda a Igreja). Também se opõe a qualquer acobertamento. Como exemplo, cito sua Carta Pastoral aos Católicos da Irlanda (válida para todos os católicos do mundo inteiro) quando diz: "(...)uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, levaram como resultado à malograda aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes fatores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado" (n.4).

Uma coisa, portanto é noticiar fatos. Outra é usá-los para atacar quem também sofre pelos mesmos.

"A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados" (Dom Odilo Pedro Cardeal Scherer. Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2010).

Mais que tergiversar sobre culpados e causas, precisamos socorrer as vítimas e curar esse mal social que não escolhe ideologia, religião e classe social.
Fonte:
Pe. Rogério Guimarães

Os Enfrentamentos

OS ENFRENTAMENTOS
IIIº DOMINGO DA PÁSCOA

1. Introdução.
Na nossa caminhada pascal nos deparamos várias vezes com o Ressuscitado. Hoje nos encontramos com Ele no dia-a-dia, na missão e no céu. Uma caminhada de verdade. O Ressuscitado nos ajuda a enfrentar o mar, a nos lançar para os desafios da evangelização e da missão para alcançarmos a bem-aventurança eterna. A Eucaristia que nos reúne vai nos abastecer com a força para esta caminhada.

2. Estou de volta pro meu aconchego.
“Eu vou pescar” Eles disseram: “Também vamos contigo” (Jo 21, 3)
Pedro parece desistir do seguimento. Voltar à vida de pescador. O fracasso da cruz parece abater a todos. Voltar à antiga condição, ao antes de conhecer Jesus. Tentados a abandonar tudo! Voltar à pescaria, atividade antiga... Voltar a Emaús, morada antiga... Essa também a nossa tentação. Só teremos segurança se enraizados na Comunidade. Com a Palavra e com a Eucaristia. Assim poderemos sair e anunciar ao mundo a condição nova para a humanidade: uma sociedade de ressuscitados, na dignidade de filhos e filhas de Deus. O Ressuscitado, na praia acena para eles que é hora de recomeçar. A pesca se torna abundante, pois Ele está presente. E os abastece com o alimento. O cristão abastecido pela Eucaristia vai enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.

3. Bem aventurados os perseguidos...
Os apóstolos saíram do Conselho, muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus. (At 5, 41)
O enfretamento das dificuldades não desanima o apóstolo. Mesmo torturados não desistem. Têm consciência de sua tarefa: “É preciso obedecer a Deus, antes que os homens.”. O projeto não e deles: é de Deus! E assumem na prática o que já dizia a bem-aventurança: “Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim.” (Mt 5,11). Assim ontem com a Igreja. Assim hoje com a Igreja. Perseguida, caluniada, ofendida, mas seguindo firme, cumprindo as propostas do Ressuscitado.

4. Sou cidadão do infinito...
Eram milhares de milhares, milhões de milhões... (Ap 5, 11)
E depois seremos recompensados. Basta manter a fidelidade. Faremos parte da multidão que vai estar diante do Cordeiro.

5. Conclusão
Nossa caminhada deve seguir esses passos: encontrar-se com o Ressuscitado, assumir a sua proposta de maneira concreta na missão para alcançarmos a recompensa prometida. Será uma luta constante. Mas é preciso perseverar. Ele não nos aponta facilidades, mas enfrentamentos – porta estreita, cruz, perseguição... “Vocês serão odiados de todos, por causa do meu nome. Mas, quem perseverar até o fim, esse será salvo.” (Mt 10, 22).

Obs. Quando se lê o texto mais longo Jo 21, 15-19 – Muitos vêem na tríplice declaração de amor um resgate da tríplice negação de Pedro. Eu penso que não. Jesus já o tinha perdoado. Não ia encostá-lo na parede para botar o dedo na ferida. A tríplice declaração de amor é para a sua missão: “Apascenta...” (Jo 21,15ss). Quem vai apascentar tem que ter muito amor...

Fonte:CI170410
Mons. Antonio Romulo Zagotto
catedral@dci.org.br