23/04/2010

A culpa é de quem?

Fervem nos meios de comunicação os escândalos provocados pelos abusos sexuais contra menores por parte de alguns do clero católico. De fato, esses crimes e gravíssimos pecados ferem também a Igreja seja pelo hediondo abuso, seja pelo ataque feroz dos que simplesmente a odeiam. Esses atiram para todos os lados, apontando como causa desse ato cruel o celibato (que nós padres LIVREMENTE aceitamos por amor ao Reino de Deus cf. Mt, 19, 12), e a omissão ou acobertamento de bispos e do Santo Padre.

Primeiramente, se o celibato fosse mesmo a causa da pedofilia, como ostentam os inimigos da Igreja, não haveria nenhum caso em que pais de família tenham cometido tais abusos contra menores. A verdade é que, no silêncio (graças a Deus quebrado em grande escala) dos lares de todo o mundo essa prática desumana vem acontecendo.

Certamente, o celibato é um grande sinal para o nosso tempo, marcado pelo hedonismo, por uma sexualidade egoísta, irresponsável e lucrativa. Há muitos celibatários diocesanos e religiosos que são vigorosos, alegres e fiéis a esse dom de Deus e fecundam a sociedade pelo seu eloquente seguimento e anúncio de Jesus Cristo. O problema não é o Celibato. O catecismo da Igreja nos diz nos números 1579 e 1580, na sequência:

"Todos os ministros ordenados da Igreja latina, à exceção dos diáconos permanentes, são normalmente escolhidos entre homens crentes que vivem celibatários e têm vontade de guardar o celibato «por amor do Reino dos céus» (Mt 19, 12). Chamados a consagrarem-se totalmente ao Senhor e às «suas coisas» (1 Cor 7, 12) dão-se por inteiro a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta vida nova, para cujo serviço o ministro da Igreja é consagrado: aceite de coração alegre, anuncia de modo radioso o Reino de Deus".

"Nas Igrejas orientais vigora, desde há séculos, uma disciplina diferente: enquanto os bispos são escolhidos unicamente entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados diáconos e presbíteros. Esta prática é, desde há muito tempo, considerada legítima: estes sacerdotes exercem um ministério frutuoso nas suas comunidades (Concílio Vaticano II, Presbyterorum Ordinis). Mas, por outro lado, o celibato dos sacerdotes é tido em muita honra nas Igrejas orientais e são numerosos aqueles que livremente optam por ele, por amor do Reino de Deus. Tanto no Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem já não pode casar-se".

Em segundo lugar, quanto à acusação de omissão e acobertamento da Igreja por parte de bispos. É verdade que em alguns casos de pedofilia noticiados pela imprensa há o histórico de omissão por parte dos bispos em questão. Não é essa a norma na Igreja (clique e saiba mais) Não se pode acusar toda a Igreja por isso.

Quanto à acusação de que o Papa tenha acobertado, mesmo antes do pontificado. Tal acusação é infundada, inaceitável e injusta. O papa Bento XVI tem enfrentado abertamente esse problema, manifestando seu horror e sentimento de traição (reação partilhada por toda a Igreja). Também se opõe a qualquer acobertamento. Como exemplo, cito sua Carta Pastoral aos Católicos da Irlanda (válida para todos os católicos do mundo inteiro) quando diz: "(...)uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, levaram como resultado à malograda aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes fatores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado" (n.4).

Uma coisa, portanto é noticiar fatos. Outra é usá-los para atacar quem também sofre pelos mesmos.

"A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados" (Dom Odilo Pedro Cardeal Scherer. Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2010).

Mais que tergiversar sobre culpados e causas, precisamos socorrer as vítimas e curar esse mal social que não escolhe ideologia, religião e classe social.
Fonte:
Pe. Rogério Guimarães

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