29/10/2010

DESCE! - XXXIº DOMINGO DO TEMPO COMUM.

1. Introdução.
Somos convidados a ir ao encontro de Jesus. Fazer a experiência do encontro pessoal com o Senhor é fazer o itinerário de Zaqueu: abrir-se para ouvi-lo e acolhe-lo em nossa casa. Casa no sentido mais amplo – coração, vida, atitudes... Conversão! Também a nós é dada a ordem: Desce! Devemos sair de nossa postura auto-suficiente, despir-nos do orgulho e nos colocar ao nível dos outros, da multidão, dos seguidores. Não somos melhores nem piores. Devemos nos sentir igual. Só assim o Senhor vai se hospedar em nossa casa. Do nosso coração deve brotar o mesmo grito do publicano, de domingo passado: “Tem piedade de mim que sou pecador!” (Lc 18,13).

2. Compaixão. “Senhor, de todos tens compaixão, porque amas tudo que existe” (Sb 11, 23; 24).
Apesar de nossos pecados – o contexto fala da idolatria – Deus olha para nós cheio de compaixão. São estas as atitudes de Deus em relação ao pecador: tem compaixão, fecha os olhos ao pecado, ama, não despreza, trata com bondade, corrige com carinho. Quem faz a experiência de um Deus assim jamais vai querer permanecer no pecado. Jesus nos revela estas atitudes de Deus numa palavra – ele é Abbá = Paizinho. O Salmo nos ajuda a rezar: “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura.” (Sl 144, 8-9).

3. Perseverar. “O nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós nele”. (2 Ts 1, 12).
São Paulo insiste na perseverança. Aguardar a vinda de Jesus deve ser algo vivido aqui e agora.. Não deve ser algo que vai acontecer muito lá na frente, mas já preparado hoje. O encontro com o Senhor deve ser vivido no nosso dia-a-dia. Glorificar a Deus nas nossas atitudes de perseverança, sem diminuir a vontade de fazer o bem. Paulo quer uma Comunidade voltada para as propostas de esperança e fé. Só assim estarão preparados para os desafios e enfrentamentos.

4. Conversão. “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. (Lc 19, 10).
De novo nos encontramos diante do perdão e da misericórdia de Deus. Como o publicano de domingo passado, hoje o encontro não é de ficção, mas de verdade. Zaqueu encarna as condições do pecador arrependido e busca Jesus. Mas é Jesus quem olha para cima da árvore, que fala o nome de Zaqueu (o conhece pelo nome!) e se convida para ir à sua casa. Iniciativas de Deus diante de um coração arrependido. A própria ação do arrependimento é uma iniciativa de Deus.

5. Conclusão
Devemos estar atentos ao apelo de conversão que o Senhor faz a cada um de nós. Ele quer fazer saber que “hoje a salvação entrou nesta casa...” (Lc 19, 9). Fazer a experiência da ternura, da misericórdia e da bondade de Deus é algo que nos deve levar a viver constantemente na sua graça.. Cada um de nós é chamado a vivenciar esta experiência. Cabe a cada pessoa celebrar este encontro com o Senhor. Deus não exclui ninguém. Basta ter o coração aberto à sua ação. Basta que desçamos depressa e recebamos Jesus com alegria. (cf Mt 19, 6).

Fonte: Mons. Antonio Romulo Zagotto
catedral@dci.org.br

21/10/2010

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS. XXXº DOMINGO DO TEMPO COMUM

1. Introdução.
Outra vez a Santa Palavra vem nos falar de oração. Nosso encontro semanal com o Ressuscitado nos faz saborear o caminho a ser percorrido para se aprender a rezar. Não podemos entrar em contato com Deus com o coração inflado de arrogância, imaginando que o mundo gira ao redor de nós. Devemos nos colocar como necessitados da misericórdia de Deus para receber Dele toda a atenção. Aos pobres, aos excluídos, aos marginalizados Deus dá atenção. Para quem se basta, não há espaço para Deus.

2. Deus ouve os pequenos. “A prece do humilde atravessa as nuvens.” (Eclo 35, 21).
As categorias do pobre, do órfão e da viúva (e ainda o estrangeiro, não mencionado aqui), são os queridos de Deus. São grupos socialmente vulneráveis. Deus os escuta. Deus os protege. Suas preces são ouvidas. É assim que devemos nos apresentar diante de Deus: despojados. O nosso vazio será ocupado por Deus. O refrão do salmo de hoje nos ajuda a rezar: “O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos.” (Sl 33).

3. Abandonado. “Agora está reservada para mim a coroa da justiça.” (2Tm 4, 8).
Ao escrever ao Bispo Timóteo, Paulo mostra bem que Deus faz justiça aos despojados. Abandonado pelos homens, é recompensado por Deus. O prêmio não são elogios humanos, mas a coroa imperecível da justiça, dada por Deus. Em seu “testamento”, Paulo delineia bem como os abandonados são acolhidos por Deus. Quando tinha o coração cheio de ira não era acolhido. Quando “caiu do cavalo” tem o valor reconhecido.

4. Fariseu e publicano. “O publicano voltou para casa justificado, o outro não.” (Lc 18, 14).
A “ação de graças” do fariseu não atingiu o coração de Deus. Falava mais de si. Sua oração tinha duas direções: um olhar negativo dos pecados dos outros e um olhar positivo de suas virtudes. Deus não o ouviu. O publicano tinha uma direção: suas misérias, seus pecados. Deus o ouviu. A salvação não é mérito nosso, vem de Deus. Se nos colocarmos assim diante de Deus, Ele nos atenderá.

5. Conclusão.
Os queridos de Deus são ouvidos. Diante dos valores do mundo, são desprezados. Mas é com estes que Deus faz aliança. Ele está do lado do pobre, do humilde, do desprezado. E é assim que devemos nos colocar diante de Deus: despojados! Só assim Deus vai preencher nosso vazio. Se nos colocarmos cheios, não haverá espaço para Deus. Neste Domingo celebramos o Dia Mundial das Missões. O tema de reflexão, sugerido pelo Papa Bento XVI para este ano de 2010, é: “A construção da comunhão eclesial é a chave da missão”. Ser missionário é ir ao encontro dos despojados para anunciar a eles a pessoa de Jesus. Mais com atitudes do que com palavras.

Fonte: Mons. Antonio Romulo Zagotto
catedral@dci.org.br

14/10/2010

PERSEVERANTES NA ORAÇÃO - .XXIXº DOMINGO DO TEMPO COMUM

1. Introdução.
Nos últimos domingos aprendemos sobre a fé. A lição que aprendemos neste domingo é sobre a oração. Diante de tantas tecnologias, que aparentemente solucionam todos os problemas da humanidade, nos perguntamos: Será ainda necessário rezar? No passado se rezava para que acontecesse uma intervenção divina. Hoje, com a mudança do eixo religioso (que governava todas as ações humanas no meio rural), para o eixo econômico (para o homem urbano), gera: “Uma concepção de mundo segundo a qual este último se explica por si mesmo, não sendo necessário recorrer a Deus: Deus seria pois supérfluo e até mesmo um obstáculo. Este secularismo, para reconhecer o poder do homem, acaba se colocando acima de Deus ou mesmo negando-o...”. (Puebla [1979], CELAM, 2004, p, 398).

2. Mãos elevadas para o céu. “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia.” (Ex 17, 11)
A fé deve estar sempre unida à ação. Enquanto Moisés intercede, Josué está lutando. Deus atende as súplicas de seu povo diante dos inimigos. São obstáculos a serem vencidos. Mas será necessário também fazer a nossa parte: lutar, lutar, lutar. Uma oração contínua e insistente será a condição para se vencer as dificuldades da vida. Como nos ajuda a rezar o Salmo 120 – “Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra”. (Sl 120, 2)

3. Como agir. “O homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra”. (2Tm 3, 17).
Evangelizar é enfrentar desafios. Paulo indica ao bispo Timóteo uma maneira de agir. A garantia de conduta é a Escritura Sagrada. O texto de hoje se encaixa bem na proposta missionária deste mês de outubro – mês das missões. Como discípulos/missionários devemos anunciar com coragem a Palavra de Deus. “Proclama a Palavra, insiste oportuna e importunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda a paciência e doutrina”. (2Tm 4, 2).

4. Deus nos atende. “Deus fará justiça aos que gritam por Ele”. (Lc 18, 7)
A bela lição do Evangelho está na insistência e perseverança. Não podemos desanimar. Deus vai atender àqueles que, através da oração, testemunham o desejo e a esperança de que se faça justiça. A viúva é sempre uma das categorias excluídas (junto com os órfãos e os estrangeiros). O juiz injusto mostra que se um homem tão mau atende um pedido incessante, muito mais Deus, que é bom, vai nos atender.

5. Conclusão.
Com a palavra os santos: “Nada se compara em valor à oração; ela torna possível o que é impossível, fácil o que é difícil. E impossível que caia em pecado o homem que reza.”. (São João Crisóstomo). “Quem reza certamente se salva; quem não reza certamente se condena.” (Santo Afonso de Ligório). Mesmo diante de tantas soluções práticas que a modernidade traz para nós, não podemos prescindir de Deus. As diversas maneiras de rezar vão nos ajudar a estar mais próximos de Deus e Ele mais próximo de nós.

Fonte: Mons. Antonio Romulo Zagotto
catedral@dci.org.br

06/10/2010

SABER DIZER “OBRIGADO”! - XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM.

1. Introdução.
A cada Domingo nos reunimos com o Ressuscitado para a Eucaristia. A palavra Eucaristia vem do grego e significa “reconhecimento”, “ação de graças”, “muito obrigado!”. Nossa fé, como vimos, no domingo passado (“Aumenta nossa fé!”) nos faz dizer junto com Jesus o nosso muito obrigado ao Pai, reconhecendo nEle toda fonte de restauração. Se entendermos bem o significado da missa dominical, páscoa semanal, vamos perceber que mais do que cumprir uma obrigação enfadonha passa a ser uma necessidade. Eucaristia é a alegria que brota da contemplação do Deus que é grande no amor, que nasce da descoberta de sermos salvos gratuitamente.

2. Reconhecimento. “Naamã voltou para junto do homem de Deus, e fez sua profissão de fé.” (2Rs 5, 25)
O drama (ver o cap. 5 todo) se inicia com a proposta de cura e termina com o reconhecimento do verdadeiro Deus. Para esta caminhada será preciso humildade, conversão. Deus não realiza sua obra no aparato fantástico, como num passe de mágica, mas na busca constante e submissa das propostas de Deus (lavar-se sete vezes!). A lição que aprendemos que a vida é dom de Deus. Não precisamos pagar. Mas devemos ter reconhecimento. O Sl 97 nos ajuda nesta ação de graças.

3. Palavra livre. “Se com Cristo ficamos firmes, com ele reinaremos” (2Tm 2, 12).
Paulo insiste com o bispo Timóteo para que testemunhe a ressurreição. Mesmo prisioneiro deve anunciar: “a palavra de Deus não está algemada.” (2Tm 2, 9). O hino final (2Tm 2, 11-13) é para Timóteo e para nós um apelo para que haja coerência entre fé e vida.

4. Muito obrigado! “Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” (Lc 17, 18).
Nem tanto focar a gratidão, mas sim a fé do samaritano. O itinerário para se descobrir Jesus é sair da situação de exclusão (lepra), passando pela cura, até o reconhecer que em Jesus o amor de Deus leva os homens a viver na alegria da gratidão. A vida que Deus dá em Jesus Cristo é gratuita, é graça. Só na fé saberemos voltar para agradecer.

5. Conclusão.
Como Naamã e o leproso samaritano curado, devemos ser reconhecidos ao Deus que nos salva, nos perdoa e nos cura. Não podemos procurar aparatos suntuosos, exploradores de um Deus que cura tomando em troca nossas dádivas, mas o Deus de uma cura gratuita, própria do comportamento de Deus: sem barulho, na simplicidade de quem acolhe, sobretudo os excluídos e menosprezados. A Eucaristia vai se revestir de um sentido diferente, como ação de graças e não como o pesado encargo de cumprir um mandamento. A partir daí vamos entender que Eucaristia não é obrigação, mas uma necessidade. O “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou” (Lc 17, 19) é dito também a nós, se reconhecidos soubermos fazer da Eucaristia a verdadeira ação de graças. E é também, neste mês missionário um envio: discípulos/missionários.

Fonte: Mons. Antonio Romulo Zagotto
catedral@dci.org.br